domingo, 17 de maio de 2009

IDENTIDADE SOCIAL NA ADOLESCÊNCIA_REFLEXÃO

"Não fale com estranhos" é uma frase a debater com os nossos novos jovens, os nativos digitais.
A utilização de redes virtuais de interacção social proporcionam vários perigos, como se tem vindo a comprovar, principalmente a jovens menos preparados e alertados para estes novos perigos. O comunicar através de uma máquina proporciona uma maior segurança e por vezes um maior à-vontade de se "abrirem" e de revelarem o seu ser interior... Há quem se aproveite desta vulnerabilidade, como é o caso dos predadores sexuais.
O estudo "Construção de páginas pessoais como expressão de desenvolvimento social" mostra-nos que os jovens, apesar de poderem manter o anonimato, não o fazem na generalidade... partilham muitas informações pessoais como forma de expressarem a sua própria identidade e por este ser um meio mais fácil de partilha do que o frente-a-frente. Colocam fotografias, informações pessoais e endereços de e-mail, pois um dos desejos é ser contactado, é sentirem que alguém os lê e lhes responde, ou através de comentários ou mails.
Cada vez mais cabe ao adulto controlar, respeitando sempre a liberdade de modo a não criar mais situações de conflito, normais nesta fase de desenvolvimento, e ajudá-los a perceber os perigos inerentes a esta exposição.
O tempo útil que os pais passam com os filhos e o acompanhamento que lhes dão, tornou-se, sem duvida, um problema social em expansão. Os pais cada vez têm de trabalhar mais, as solicitações profissionais (e agora, a falta delas) são enormes e o desgaste físico e mental cada vez maior, o que lhes deixa muito pouca "vontade" de ainda terem de fazer o papel de pais. É muito mais fácil apetrechar o quarto das crianças com distracções que lhes proporcionem momentos de paz e descanso.
O problema é que as nossas crianças/adolescentes estão cada vez mais entregues a si próprios e sentem que ninguém se preocupa realmente com eles... ninguém dá por falta deles, se não vão logo para casa depois das aulas, não são questionados se passam horas infindáveis em frente do computador ou da televisão...
O tão publicitado choque tecnológico, com a massificação dos equipamentos informáticos são para muitas famílias mais um fosso entre pais e filhos. Quantas crianças/adolescentes estão a receber portáteis, cujos pais nunca mexeram num computador? e, mesmo que quisessem, como controlariam??
A quantidade de "Magalhães" que têm chegado lá à escola formatados, ou supostamente avariados porque a Internet não funciona demonstram que muitos pais estão muito longe de conseguirem acompanhar os seus filhos nesta nova Era.
Durante a minha pesquisa sobre o tema encontrei alguns estudos/ trabalhos interessantes de onde retirei algumas informações complementares:

"O weblog, portanto, funciona também como a representação da identidade de seu autor, uma “janela” para que os outros possam conhecê-lo e com ele interagir, um espaço onde o indivíduo pode expressar sua personalidade e seus pontos de vista. O layout do blog normalmente apresenta características coerentes com a personalidade de seu autor, através de cores, elementos e imagens, assim como os comentários expressam suas opiniões. O layout e o conteúdo do blog podem contribuir ainda para melhorar a imagem de uma pessoa que não conhecemos pessoalmente ou suplementar a impressão obtida no face-a-face. (Doring, 2002 – em Recuero, 2003).
Tendo como característica a actualização frequente, permite que o autor possa também reconfigurar sua “identidade” a partir da sua necessidade e vontade. Assim como o blog é mutante, a identidade do indivíduo também o é (RECUERO, 2003:9).
O ciberespaço é apresentado também como o local da simulação, da troca de idéias e da construção de personagens de mim mesmo (Turkle, 1998 – em Recuero, 2003). Dessa forma, os indivíduos podem inclusive se apresentarem com diferentes personalidades em cada “janela”, personalidades condizentes ou totalmente discrepantes com seu novo “eu”. O não compromisso com a actualidade, ou com a realidade, como afirma Julio Pinto (XXXX) caracteriza a migração conceitual ou um enevoamento das fronteiras entre o real e o virtual, típicas do ciberespaço. Dessa forma, para os participantes, talvez pouco importe se a figura do autor é uma representação de sua realidade. A representação é substituída pela apresentação, surge um outro tipo de mimese que deixa de representar para mostrar. O signo vem antes do objecto ou mesmo pode existir sem o objecto. Privilegia-se o facto de que o signo está presente no mesmo espaço em que eu estou presente. Nesse sentido, a realidade poderia ser definida a partir do conceito de Pierce (em Pinto, xxxx): “o real é aquilo em que qualquer homem acreditaria e sobre o qual esteja pronto a agir…”
O blog oferece a seu autor um espaço demarcado no ciberespaço. Ali ele está presente para apresentar a si mesmo, emitir suas opiniões, receber seus “vizinhos”, criar e desenvolver relacionamentos. "
"O meio electrónico torna-se um espaço central não só para comunicação e difusão da informação, mas também para a construção das identidades sociais. A experiência vivida no presencial é fundamental, porém há uma crescente substituição dessas pelas experiências mediadas pelos discursos da media (Thompson, 1998), o que provoca grande influência na construção da vida social.
Os discursos relacionados à sexualidade estão em constante circulação na sociedade: matérias jornalísticas, livros juvenis, filmes, outdoors, campanhas de prevenção, etc. Conforme evidenciado em trabalhos como o de David Huffaker (2004), os jovens mostram sua intimidade nos espaços virtuais, especificamente, nos blogs, onde expõem seus dilemas e desejos, trazem questões referentes ao corpo e à sexualidade. Essas questões aparecem com frequência porque esse espaço permite a liberdade de expressão que não é oferecida por outras instituições. Os temas relacionados à sexualidade ainda hoje são tabus para a família e para a escola.Construídos sobre a tecnologia da palavra escrita, nos blogs, o autor ou a autora vai construindo sua identidade de autor/a e leitor/a, através da apropriação das palavras e dos textos (verbais e não-verbais) , pois: “ O texto implica significações que cada leitor constrói a partir de seus próprios códigos de leitura, quando ele recebe ou se apropria desse texto de forma determinada.” (Chartier, 1999, p. 52). O papel do autor, de acordo com Foucault (1992), remete a uma das possíveis figurações do EU. Cada indivíduo torna-se autor da própria fala, o que delineia traços da identidade. "
"Com a Internet, os processos de construção identitária vêm ganhando uma nova forma. A rede possibilita, a um número maior de pessoas, a oportunidade de se relatar. Garante maior liberdade de mostrar ou construir a própria identidade. Dispor de um lugar no ciberespaço. No universo digital não há a relação física com as pessoas que encontramos. Para que haja mútuo conhecimento e uma troca de relações é necessário que as pessoas construam identidades virtuais".

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