domingo, 17 de maio de 2009

IDENTIDADE SOCIAL NA ADOLESCÊNCIA_DEBATE

Durante a publicação das sinteses as reflexões e o debate foi surgindo e revelando a importância que as novas tecnologias representam para os jovens.

Seleccionei algumas intervenções de colegas:

por Rui Fernandes - Segunda, 6 Abril 2009, 05:52

Olá
Aproveitando os comentários da Filomena e da Paula, gostaria de fazer algumas referências que me parecem pertinentes neste contexto.

Na verdade, a utilização do mundo virtual numa fase de construção de identidade, pode ser vantajosa em termos de comunicação e contactos. O anonimato permite aos jovens não criar embaraços que são naturais nesta fase da vida quando estamos perante os outros, seja pelo acne, seja porque olhar de frente e nos olhos ainda é difícil, seja por outros complexos ou frustrações ainda não ultrapassadas.

Mas isto pode levar a um problema muito delicado que, verifico hoje acontecer, no que respeita ao conceito do social e de integração nesse social. Constrói-se uma identidade muito individualista onde o colectivo não é entendido como tal, mas como o somatório das individualidades, esquecendo a partilha, esquecendo a existência dos outros. Cada um por si nos trabalhos de grupo, dificuldade em cooperar com os pares, rejeição da noção de respeito pelo parceiro, enfim, poderia tornar-se numa longa lista.

Daí que, como refere a Filomena, citando Erikson, o contributo de quem educa seja fundamental, sendo que, ao contrário do que muitas vezes se verifica, pais ou encarregados de educação não podem alhear-se desse papel deixando-o para outros como a escola ou os pares com quem os jovens interagem. É necessário controlar/perceber, e isto não significa necessariamente condicionar ou limitar, as interacções muito individualistas, apostar em colaborar nesta fase de construção da identidade social dos futuros adultos para que não nos queixemos da social no futuro.

Será necessário que os (indispensáveis) bits da nossa vida possam ficar em espera, para que os átomos, os referenciais da aprendizagem, os influenciadores positivos, os vivenciadores de experiências anteriores, possam passar a mensagem de equilíbrio social e educação. Os bits têm de se adaptar e integrar nos átomos e não o contrário, o Homem tem de continuar a comandar o seu próprio crescimento e não entregá-lo ao mundo virtual.

por Paula Simões - Segunda, 6 Abril 2009, 16:07

Olá colegas,
Concordo com o que a Filomena e o Rui estão a dizer, e respondendo à Filomena, não podem ocupar o lugar dos referenciais, a meu ver.
Sem dúvida que os referenciais reais e de convívio com os jovens são imprescindíveis, daí eu ter referido a importância dos pais e educadores. O que eu referia é que, na minha opinião, daí ter falado numa "dor" mais forte, o mundo virtual utilizado por muitos jovens é um "campo minado" e muitos pais não têm capacidade de orientação a esse nível.
Aí, a construção da identidade vê-se ainda mais instável e de luta constante. O virtual, o digital, o blog, o anonimato torna demasiado fácil muitas das vezes a convivência entre jovens. É preciso o meio ambiente, o social diário, não o criado ou pseudo real. é claro que o jovem desenvolve competências ao utilizar a internet como forma de se afirmar, mas diria que seriam mais técnicas. No mundo virtual os jovens dificilmente tropeçam e o levantar depois das quedas é que os faz crescer e lhes proporciona ir ultrapassando obstáculos e desenvolvendo a sua identidade.
Diria que o anonimato parece facilitar a formação da identidade, mas não creio muito que seja assim tanto. Mais!! Quando não houver acesso à tecnologia, e o jovem tiver de lidar com o seu acne, quem está lá? Os pais, grupo de pares, paixões e ele aí sim, vai ter de enfrentar, e vai custar-lhe poque ser adolescente é isso mesmo.
Concluindo, as tecnologias podem ajudar na exploração da identidade, fugindo a constrangimentos reais, mas ficam muito aquém das necessidades de formação da identidade do jovem e consequente maturação.



por Ana Margarida Sousa - Quinta, 9 Abril 2009, 04:15

A realidade dos nossos filhos, dos nossos alunos é muito diferente da que nós vivemos na nossa infância, na nossa adolescência. No nosso tempo, andávamos à vontade na rua, íamos a casa uns dos outros, ao parque livremente, e só voltávamos quando a nossa mãe nos chamava, empoleirada na janela, para virmos jantar. As crianças e os jovens de hoje não têm esta liberdade de movimentos e, como tal, há que preencher o tempo que se passava ao ar livre, ou em "liberdade", por outras formas mais controladas. Assim, a televisão e o computador surgem como meios de ocupação de tempos livres das crianças e jovens, depois da escola e de actividades que alguns pais poderão proporcionar aos filhos.
De acordo com alguns pediatras, é preferível uma criança estar a jogar um jogo no computador do que estar a ver televisão. Assim, desde tenra idade que a criança convive e vive com a tecnologia, sendo um ambiente que domina. Será então natural que ao longo da sua vida, irá desenvolvendo competências quer técnicas quer de socialização nestes meios. A partir de determinada altura, em que já domina estas técnicas, a crianças vai testando as suas competências (Maestria/ Domínio) através da criação ou de páginas pessoais ou de blogues, onde vai partilhar aspectos da sua vida real, ou seja, vai transpor para o mundo virtual a sua realidade. Parece-me que haver uma extensão da vida real para vida virtual, não assume ainda, na nossa sociedade, um carácter preocupante, salvo raras excepções, tal como a do jovem da escola alemã, que tal como foi referido por Schoen-Ferreira, Farias e Silvares (2003), “Na difusão de identidade, o jovem não se preocupa com sua falta de comprometimento e, em consequência, não explora activamente as alternativas disponíveis. Os jovens que permanecem no estado de difusão de identidade correm alto risco de desenvolver transtornos psicológicos (Kimmel & Weiner, 1998). (...) Os adolescentes que apresentam problemas comportamentais necessitam de ajuda para superá-los. Além disso, mesmo que uma conduta anormal seja transitória, pode ter efeitos duradouros”. Neste caso particular, possivelmente haveria uma patologia.
O facto de os adolescentes partilharam as suas preocupações, frustrações, alegrias, tristezas em blogues, páginas pessoais, e outras formas de tecnologias, acaba por funcionar como um “escape”, um desabafo para aquilo que não consegue compreender, partilhar, afinal esta é uma idade de muitas mudanças, de muitas definições e indefinições. Um mundo não se sobrepõe ao outro, apenas se complementam na procura de identidade, até porque o mundo virtual tem por base o mundo real, com todas as suas qualidades e defeitos, as dores e alegrias.
Não quero com isto dizer que pais, professores e amigos devam ser substituídos pela Internet. Cada elemento tem o seu lugar definido e, na ausência de qualquer um deles, a construção não ficará tão estável… podendo daí advir desequilíbrios mais ou menos profundos. Só penso que será mais um meio na construção da identidade, uma vez que pode diversificar experiências, vivências, opiniões, que de outra forma não seria possível aceder.
Caberá aos pais sobretudo, mas também à escola, orientar e alertar para possíveis perigos da Internet.

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